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quinta-feira, 10 de março de 2016

Depois dos 30 ainda tenho tudo para fazer

Podia ter escrito sobre o dia da mulher, optei por não o fazer. Em primeiro lugar porque, mais do que escrever sobre o assunto, o meu dia a dia reveste-se de tantas tarefas que para escrever implicaria que houvesse tempo, que me sobrasse o dito para reflectir sobre o que escrever. Esse tempo é-me precioso e curto. Depois porque tanta coisa é e foi escrita que sinceramente pouco me sobra mais que acrescentar. Sinto, tal como sentia há 20 anos atrás que, para ter efectivamente os mesmos direitos tenho que trabalhar e esforçar-me em dobro. Sinto que, por mais que defenda, grite ou argumente ainda há quem acredite que, de facto, existem tarefas que devem ser exclusivamente para mulheres e existem outras que devem ser realizadas por homens. Sobretudo sinto-me presa à geração da eterna juventude em que a aparência, as aptidões de venda ( da imagem, das ideias, do ser e sobretudo do corpo)  são condições essenciais para se ser notada e reconhecida como alguém de sucesso . Não era, não foi nunca este o meu sonho de vida. Aguento-me forte nas circunstâncias da vida, tentando manter a minha saúde acima de todas as pressões que possam exercer sobre a minha forma de estar, de pensar e de enfrentar os dias mais difíceis. Sobretudo gosto de ouvir, ler e reflectir sobre o que diz quem sabe e quem tem experiência.
 
Não tendo particularmente qualquer alusão à condição da mulher, adorei este post porque reconheci nele uma reflexão soberba que a pouco e pouco quero saber atingir. Até porque, a melhor forma de se formar uma qualquer opinião é estudar, conhecer, ter experiência sobre o assunto sobre o qual se pretende argumentar, nem que seja experiência de vida.
 
Há uns anos ( 4 ou 5) escrevi esta tentativa de prosa poética:
 
 
A rosa do deserto
 
Sou uma rosa no deserto. Nascida da mais improvável aridez, a água que me alimenta não é mais do que lágrimas que brotam dos meus próprios olhos. Sonhando com dias quentes e noites estreladas, transformei a paisagem que me envolve na mais monótona de todas as paragens... O vento levanta o pó de areia e nada sobra...mudando as acumulações de lugar, subindo e descendo como uma verdadeira ondulação: á volta tudo fica igual...A rosa cresceu acreditando na cor vermelha e descobre que não passa de uma amarela pálida. Perene como todas as rosas, a força da natureza vai acabar por me dobrar. E assim se redescobre alguém, e se vê que não se é o que se pensava ser... Em hibernação sonhei sonhos desses de voar, de percorrer o mundo... desperta do meu sonho, descubro a secura que se instalou ao meu redor , que as mudanças da luz alteraram a minha própria cor e que nada já é o que parecia poder ser.

Podia dizer tanta coisa, mas palavras sussurradas atravessam o espaço e podem servir de palavras mágicas para abrir a gruta do medo... e assim não digo nada quando não sei quem me ouve...


talvez possa percorrer o meu deserto em caravana com o vento e um dia, guiada pelos desejos que só as estrelas ouviram, numa noite já distante, o mar me venha de novo banhar e acariciar os pés, dando por terminada a minha travessia do deserto.

 
Alguém, mais esperto do que eu tomou-a como sua, aparentemente sem grande sucesso. Às vezes reflicto sobre o que escrevi e vejo que, de uma maneira ou de outra muita coisa do que escrevo vai embater, quase sempre, nas minhas raízes ou no que já vivi. São os erros que nos ensinam, muito mais do que aquilo em que acertamos. Confesso que não acredito que as mulheres da minha geração se vejam livres de muitos dos seus problemas. No entanto continuo a acreditar que mesmo tendo deixado muitos dos meus sonhos para trás, ao fazer determinadas escolhas, eu própria me encarregarei de descobrir qual o caminho certo para mim, já que até agora me parece que ainda não fui capaz.  


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