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segunda-feira, 28 de março de 2016

Brindes de Páscoa

5 dias que souberam a pouco. Um livro finalmente acabado ( acho que nunca tinha demorado tanto tempo para acabar de ler um livro e não foi por não gostar de o ler) outro começado. Arrumações em casa, torneios desportivos com os miúdos, festa de família , cantorias, doces e boa comida. Um novo começo com a sensação que não descansei o suficiente e com vontade de ficar mais uns dias. Uma horta a renascer. É a Primavera no seu âmago. Entretanto as bombas vão rebentando pela Europa e nós, para tristeza minha, vamos mostrando medo. A vida não pode e não deve deixar de se viver só porque uns quantos loucos não concordam com o modo como a vivemos. Ainda assim agradeço todos os dias o jardim onde nasci e não me ter decidido a ir embora quando o podia ter feito. Talvez estivesse melhor, sim, mas a qualidade do que ofereço aos meus filhos, bem pesadas as coisas, continua a ser bem melhor por aqui. É que o dinheiro tem menos valor do que se pensa, na vida!
 
  

terça-feira, 15 de março de 2016

Gostamos bastante de ti

Haverão várias gerações de portugueses que não te deixarão morrer, por longos anos, porque ficarás na nossa memória. São pessoas assim, sem medo de viver e de morrer (porque há de facto muito poucas coisas realmente importantes na vida) que ajudam a tornar melhor a sociedade.

Das melhores peças que vi sobre uma perda tremenda para o nosso país e para a nossa cultura. Saibam os nossos "novos artistas" chegar a este discernimento da vida. Fará falta, neste Portugal em profunda mudança.


quinta-feira, 10 de março de 2016

Depois dos 30 ainda tenho tudo para fazer

Podia ter escrito sobre o dia da mulher, optei por não o fazer. Em primeiro lugar porque, mais do que escrever sobre o assunto, o meu dia a dia reveste-se de tantas tarefas que para escrever implicaria que houvesse tempo, que me sobrasse o dito para reflectir sobre o que escrever. Esse tempo é-me precioso e curto. Depois porque tanta coisa é e foi escrita que sinceramente pouco me sobra mais que acrescentar. Sinto, tal como sentia há 20 anos atrás que, para ter efectivamente os mesmos direitos tenho que trabalhar e esforçar-me em dobro. Sinto que, por mais que defenda, grite ou argumente ainda há quem acredite que, de facto, existem tarefas que devem ser exclusivamente para mulheres e existem outras que devem ser realizadas por homens. Sobretudo sinto-me presa à geração da eterna juventude em que a aparência, as aptidões de venda ( da imagem, das ideias, do ser e sobretudo do corpo)  são condições essenciais para se ser notada e reconhecida como alguém de sucesso . Não era, não foi nunca este o meu sonho de vida. Aguento-me forte nas circunstâncias da vida, tentando manter a minha saúde acima de todas as pressões que possam exercer sobre a minha forma de estar, de pensar e de enfrentar os dias mais difíceis. Sobretudo gosto de ouvir, ler e reflectir sobre o que diz quem sabe e quem tem experiência.
 
Não tendo particularmente qualquer alusão à condição da mulher, adorei este post porque reconheci nele uma reflexão soberba que a pouco e pouco quero saber atingir. Até porque, a melhor forma de se formar uma qualquer opinião é estudar, conhecer, ter experiência sobre o assunto sobre o qual se pretende argumentar, nem que seja experiência de vida.
 
Há uns anos ( 4 ou 5) escrevi esta tentativa de prosa poética:
 
 
A rosa do deserto
 
Sou uma rosa no deserto. Nascida da mais improvável aridez, a água que me alimenta não é mais do que lágrimas que brotam dos meus próprios olhos. Sonhando com dias quentes e noites estreladas, transformei a paisagem que me envolve na mais monótona de todas as paragens... O vento levanta o pó de areia e nada sobra...mudando as acumulações de lugar, subindo e descendo como uma verdadeira ondulação: á volta tudo fica igual...A rosa cresceu acreditando na cor vermelha e descobre que não passa de uma amarela pálida. Perene como todas as rosas, a força da natureza vai acabar por me dobrar. E assim se redescobre alguém, e se vê que não se é o que se pensava ser... Em hibernação sonhei sonhos desses de voar, de percorrer o mundo... desperta do meu sonho, descubro a secura que se instalou ao meu redor , que as mudanças da luz alteraram a minha própria cor e que nada já é o que parecia poder ser.

Podia dizer tanta coisa, mas palavras sussurradas atravessam o espaço e podem servir de palavras mágicas para abrir a gruta do medo... e assim não digo nada quando não sei quem me ouve...


talvez possa percorrer o meu deserto em caravana com o vento e um dia, guiada pelos desejos que só as estrelas ouviram, numa noite já distante, o mar me venha de novo banhar e acariciar os pés, dando por terminada a minha travessia do deserto.

 
Alguém, mais esperto do que eu tomou-a como sua, aparentemente sem grande sucesso. Às vezes reflicto sobre o que escrevi e vejo que, de uma maneira ou de outra muita coisa do que escrevo vai embater, quase sempre, nas minhas raízes ou no que já vivi. São os erros que nos ensinam, muito mais do que aquilo em que acertamos. Confesso que não acredito que as mulheres da minha geração se vejam livres de muitos dos seus problemas. No entanto continuo a acreditar que mesmo tendo deixado muitos dos meus sonhos para trás, ao fazer determinadas escolhas, eu própria me encarregarei de descobrir qual o caminho certo para mim, já que até agora me parece que ainda não fui capaz.  


quinta-feira, 3 de março de 2016

Histórias de liberdade



Num tempo em que tanto se fala do Alentejo, ler a crónica do Vitor , trouxe-me à memória o meu Alentejo. Sou uma Alentejana atípica, também, uma suposta privilegiada, filha de funcionários públicos, mãe professora, tal como a do Vítor, que durante anos partilharam o mesmo piso da escola primária com salas de aula frente a frente, pai funcionário público, chefe de uma repartição de finanças. Também adoro a minha terra, foi ali que cresci e fiz amigos, característica de quem, bem ou mal, se conhece desde há muito tempo. As pessoas estão lá e são quase sempre as mesmas é inevitável não criar laços, alguns indissolúveis. Saí mais cedo, aos 15 anos, numa fuga para a liberdade. Irónico, que uma terra conectada com a liberdade tivesse sido sentida por mim durante tanto tempo como uma prisão. Talvez ainda o seja, um pouco. Super-protegida, sei exactamente o significado das palavras politicamente incorrecta! Guardo desde muito cedo as histórias contadas, os segredos, a incompreensão das coisas que não podiam ser ditas, nem feitas. Porquê? porque não! Porque não fica bem, porque há assuntos que não são para raparigas, lugares que não são para raparigas, coisas que as meninas não fazem, sobre as quais não se fala para não captar a atenção. Logo eu, que nasci com cromossomas extra para a igualdade e a justiça. Sempre tive a mania que gostava de ser rapaz, agora talvez já se perceba porquê. Tive à minha volta mulheres fortes. Mulheres que, tal como descreve o Henrique Raposo, desde muito cedo tiveram um instinto protector nato, uma força de carácter que lhes reconheço à distância e que tomei como exemplo, com a diferença que nunca perdi esta mania rebelde de dizer o que penso e se não digo, ficam-me a corroer as entranhas até à explosão total. Guardo com carinho a lembrança de uma antiga trabalhadora do meu avô, que foi rendeiro de uma  propriedade, que ao perceber o meu apelido, no hospital, me contou que o meu avô a tinha trazido de propósito ao médico, de carro (um luxo na altura), quando teve um acidente de trabalho, durante a ceifa. Lá estava a cicatriz enorme numa das mãos para o comprovar. Sei também que não eram todos assim, os patrões, e enchi-me de orgulho de a ouvir contar. As perseguições, as delações, a PIDE, os abusos de poder, tudo histórias que povoaram o meu imaginário de infância. E a agressividade latente, nos anos do pós 25 de Abril, que fazia de nós crianças, meras espectadoras sem noção e às vezes vitimas de pequenas vinganças e maledicência. O verão era o meu tempo de liberdade, livre da escola e da necessidade de ser um exemplo: corria descalça pelas dunas e pelos caminhos de areia, como se não houvesse amanhã, em praias que naquele tempo eram praticamente desertas, sem nadadores salvadores, às vezes sem ninguém, só os pescadores e o mar. Da adolescência guardo também na lembrança as sessões históricas de "porradaria" só porque sim, de um Alentejo litoral que agora já vai aprendendo a conviver. O papel da mulher, esse, ainda se mantém  num equilíbrio periclitante entre a decência e a liberdade de expressão, às vezes até a liberdade de pensamento. Como se diz e bem nesta crónica também da sábado, infelizmente (acrescento eu) a liberdade tem um preço. Há quem tenha pago um preço bem alto por ela .