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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Ausências

" Não há tempo morto. Nem há falta de tempo. Há o tempo e a ausência de tempo. O tempo é vida. A ausência de tempo é morte.
Nós temos um intervalo entre nascer e morrer. Só um. Só um intervalo. Só um tempo. Só uma vida.
Não somos obrigados a abraçá-la. Podemos até não ligar nenhuma. Mas é mais inteligente ser-se egoísta e cobarde e forreta com o tempo, gastando o mínimo possível em coisas que nos incomodam.
 Quem ama aprende logo como é pouco o tempo."

 
 
MEC in Como é linda a puta da Vida
 
 
 
A morte é a ausência de vida. Li isto em algum lado, não me lembro onde. Poderia acrescentar que vida será então a ausência de morte? Não me parece. Ao fim de todos estes anos ainda me incomoda encarar a morte de frente: o inevitável, a única coisa com que não vale a pena lutar muito. Foi um dia triste e uma noite triste. Porque longe se foi um sorriso inesquecível , porque perto me ficou nas mãos o sabor a perda, sem saber como, nem porquê. Há dias assim, longos demais, que não permitem parar para se fazer o que se gosta, estar com quem se quer. É a vida, ou a ausência de morte em nós, mas convivendo tempo demais e perto demais com ela.
 
Sinto há algum tempo que caminho para o virar, para a curva que me mostrará o novo caminho. Mas por mais que caminhe a curva mantém-se à mesma distância, como uma miragem, embora eu continue a andar, sempre, mais e mais...
 
Ontem foi um dia triste, foi uma noite triste. Dizem que tristeza também é vida, mas se vida é ausência de morte, onde colocar tanto vazio nos dias? 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Das quedas...

Lá por casa a segurança sempre foi uma obsessão. Coisas alucinadas do género de nunca viajarmos todos no mesmo avião ( porque se caísse não morreríamos todos de uma vez), fechar todas as portas, as luzes, desligar todas as tomadas eléctricas, a torneira de segurança da água e do gás sempre que nos ausentamos por mais de 3 dias, para evitar acidentes na nossa ausência e outra parafernália de pormenores que, de tantos, faço questão de me esquecer de alguns para não ficar ainda mais paranóica. É engraçado perceber que noutras famílias também existiam alguns cuidados. Sou sabedora dos segredos dos cofres, das partes que me cabem aqui e ali, dos lugares nos confins da terra onde existe alguma coisa que possa vir a ser necessária e as minhas contas pessoais eram todas em conjunto com os meus pais.
Quando a empresa da minha vida faliu, valeu-me a educação que tive e o hábito arreigado ( embora despreocupado) de poupar. Lembrei-me de esconder o que sobrava dos consumidores inatos e gastei o que restou a tentar tapar os buracos que ficaram. Foram os novos buracos, aos quais era absolutamente alheia, provavelmente por demasiada inocência da minha parte, que me "jogaram ao chão". Foi necessário aprender uma nova ordem, aprender a sobreviver do nada, voltar atrás como se voltasse a ter 15 anos. A diferença é que já não tinha! Voltar às rotinas das casas dos pais não é fácil, principalmente quando já se tem filhos. Mas a grande luta foi de facto com o sistema de alarmes, essa modernice, que quando de lá saí não existia. Os meus horários sempre foram um problema, e mexeram de tal forma com os hábitos daquela família que a solução acabou por ser desliga-lo ou então passava a vida a falar com a menina da central de alarmes ( é que me deu para não conseguir decorar o segredo do alarme, vá-se lá saber porquê!) entrar a horas em que é suposto estar tudo a dormir e sair a horas em que ainda toda a gente dorme não é uma forma de vida fácil de impor a um casal que fez toda a sua vida num horário de gente "normal" e com rotinas extremas, controladas ao minuto. Cheguei a ter que falar com a menina dos alarmes às 4 da manhã, porque tive a péssima ideia de fazer um assalto à minha própria cozinha a essa hora, e não me conseguia lembrar da porcaria do segredo para desactivar aquela "balhana". A isto é que se deve chamar estar presa na própria casa. Felizmente o pai A. lá se lembrou que desligar aquilo enquanto a casa está habitada era capaz de ser a melhor solução. Hoje já não faço assaltos à cozinha, já não como de noite, controlo a minha alimentação com o rigor e cuidado necessários de quem quer perder 10kg. E mais do que me habituar aos meus pais, já foram eles que tiveram que se reabituar a mim: aos dias em que entro muda e saio calada, porque a falta de segurança em que caiu a minha vida é um assunto sério, tão sério quanto a preocupação de não estarmos todos no mesmo avião, à mesma hora, se ele se decidir a cair...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Voltando à pneumática...

Passaram 3 meses desde que me decidi a voltar. Com algumas ideias daqui, dali ou de acolá, lá me vou conseguindo aguentar. Perdi 5 kg entretanto mas, para mim, continuam sem haver grandes diferenças. O que juntando ao horário do mês dá...birra, mau feitio e a p=)//&$/%$"$#&" da depressão a bater à porta. E pronto é isto...

 
São só mais 20 dias e entra outro horário. Entretanto já devo ter novidades em relação ao que fazer com a morada ( se me aguento ou não me aguento com a mudança) e como gerir o novo ano escolar. Misturando tudo com o problema dos pneus, dá provavelmente resto zero. Como sempre!

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A minha tribo

Fomos sempre chamadas de índias e nem sempre fomos uma tribo pacífica... mas esse era o tempo em que a casa ainda não era a dos netos... mais pequena, o nosso quarto era minúsculo mas os beliches permitiam a  nossa presença e a de mais 2 num espaço que visto de agora me faz pensar em como seria que lá conseguíamos caber. Os azulejos da casa de banho eram um de cada nação, de um mau gosto impar, mas que ainda hoje, habitam nas minhas recordações quase todos os padrões misturados à balda. Mesmo depois de a minha mãe ter exigido a pintura das paredes de cores normais, para se poder habitar a casa, por baixo dos interruptores (antigos de grandes barrigas e com a mania de descolar das paredes) conseguiam distinguir-se o azul eléctrico dos quartos e o laranja choque da cozinha. Era assim a casa antes da família aumentar. Eram assim os Verões pautados por dias de praia e fins de tarde a ver o sol a esconder-se para lá da linha traçada no horizonte pelo mar. Era assim uma liberdade, não comum nos dias de escola, que nos permitia correr e gritar à vontade, o que nos valeu a alcunha de "índias" pelos pais.

Nunca gostei muito de estar quieta, quando não podia manter-me em movimento, a cabeça tratava de fazer esse movimento pelo corpo e devorava livros e histórias e tudo o que me fizesse manter-me a "carborar". A minha irmã sempre foi mais da "pica do negócio", sou capaz de me lembrar de uns quantos e outros tantos, desde os tempos mais remotos. Invariavelmente com algum sucesso.

É engraçado regressar agora, em mais uma das suas ideias, a reanimar a ideia das tribos. Estou curiosa para ver como ficou tudo, depois de pronto, porque é bom podermos dar aos miúdos espaços para correr, para gritar e para terem contacto com a natureza ( a sua e a nossa) já que o dia a dia dos nossos dias já não nos permite que os miúdos sejam índios como deviam ser




quinta-feira, 24 de julho de 2014

As músicas da vida

Não sei muito bem o que nos é um familiar dos nossos filhos. Isto é : mesmo depois de deixarmos de pertencer a uma determinada família, há pessoas que nos ficam por dentro, como se fossem também um pouco nossas, ou pelo menos, as suas lembranças nos fossem familiares. É estranho que o tudo que nos são os nossos filhos, seja dividido com uma parte que não nos é nada e que definimos como  a ultrapassar e a reter como exemplo de aprendizagem do que a que não queremos pertencer daqui por diante. Passado isto, como dizia,  ainda assim há pessoas que ficam e a quem ficamos na memória.

Tenho um amigo que diz  por brincadeira que eu conheço "toda a gente, até o carteiro"( e é verdade , conheço! na realidade conheço mais do que um, conheço-os quase todos, os do nosso "quintal"...). Não é raro ir a qualquer lugar, mesmo fora da área e encontrar alguém que conhece alguém ou alguém, mesmo, mesmo querido ou conhecido. Sou eficaz na memória das caras.

O que nunca me tinha acontecido é ser reconhecida por alguém que não reconheço. A sensação é estranha. No entanto é sempre bom sentir que ficamos marcadas em algum lugar de uma forma boa (ou não haveria motivos para o reconhecimento)...Passo a explicar ( adoro contar estórinhas ehehehe!) :

Corria o ano de 2000 quando me casei. No meu imaginário fez sempre parte um véu enorme que fiz questão de usar nesse dia até não poder mais, pelo que devo ter sido a noiva deste país que mais horas usou um véu de três metros.  A pequena B. na altura com a idade do meu Afonso olhava para mim com uns olhos enormes, brilhantes e durante esse dia seguiu o meu véu com quase tanto gosto quanto aquele com que o usei. Foram os olhos, e as palavras dela que a "denunciaram", ontem. Quando à noite em pleno exercício de funções laborais, uma rapariga com jeito de mulherzinha se vira para mim e num sorriso enorme me diz: Ah! eu conheço-te... ( silêncio) não consegui distingui-la. Sou a B. ! e então sim, foram os olhos que a denunciaram! Não consegui deixar de a abraçar, pela felicidade de a rever, mas sobretudo pela satisfação que me deu, de ainda ser recordada.

É assim o mundo e é destas ( e de outras) coisas que se faz a vida. Os festivais de Verão trazem-nos para o quintal recordações de como foi, de como era, animações, gente nova, gente velha em formas vintage e sobretudo a certeza que tudo cresce, tudo muda, tudo se transforma, mas na sua essência, tudo permanece ligado de uma forma vital.

Bem vindos à época de festivais de Verão no Alentejo, bem vindos às músicas do mundo!





quarta-feira, 23 de julho de 2014

As ironias dos pneus

Diz-se que "ando muito". Se é verdade ou não, não sei, o que sei é que ainda ontem era novo e já vai lançadinho para os 90 mil Km. Abençoado! E ainda só tem as mossas que a "mãe" lhe fez ( a bem dizer, nem sei bem como, mas estão lá a comprovar que a maior parte das vezes conduzo com a cabeça sabe Deus onde... é a tal estória do piloto automático. Às vezes falha) .
Todos os anos leva ( ou devia levar) uns sapatos novos. Este ano furei e fui obrigada a comprar um fora de tempo o que me desconcertou as contas. Nunca mais me lembrei que, lá por ter comprado um, os outros necessitam, na mesma, de ser trocados.
Pfff!! abençoados amigos que têm olhos para ver essas coisas que me escapam.
Pfff!! A vida é irónica. Anda aqui uma mulher a tentar livrar-se dos pneus que tem a mais, e não sabe como se ver livre deles,  para depois lhe virem lembrar, que afinal ainda tem que gastar uns "cobres valentes" nuns pneus novos. É que seja onde for que vá, andando muito ou pouco, gosto bastante de chegar sem mossas...






quinta-feira, 17 de julho de 2014

Brincar com coisas sérias

Na vida há coisas de que gostamos outras que nem por isso. Isto aplica-se a todas as vertentes da "coisa".
Não gosto de picar crianças, mas às vezes tem mesmo que ser. Começo quase sempre com um ar sério e comprometido, especialmente quando a birra começou antes de eu chegar ( exceptuam-se os bebés, que requerem outras estratégias).
São os pais, em muitos dos casos, que transportam as suas ansiedades e não lidam bem com a ansiedade dos meninos ( quem gosta de ver os seus sofrer que atire a primeira pedra aos que também lhes apetece fazer birra quando sabem que os meninos vão ser picados. Mas tudo tem os seus limites!) .
Frases como "não dói nada" e "um homem não chora" tiram-me literalmente do sério e fazem-me respirar fundo 3456 vezes ou mais... dói! e um homem/mulher chora, tem que chorar, deve chorar! As tentativas de "branquear" a situação e não permitir sentir, são muitas vezes agravantes e fazem com que a colaboração se demore mais a conseguir, porque implica faltar à verdade, e as crianças sabem isso, sentem-no.
Começo com um ar sério e comprometido e digo logo o que se pode e não se pode fazer: pode-se chorar e gritar, à vontade, o que não se pode é mexer o local que vai ser picado.
Ainda assim as birras continuam "não quero", "tenho medo". Chegamos ao local desejado: "tens medo de quê? " e é muitas vezes, não o quê mas o porquê, que me diz mais sobre o que vem a seguir.  Os porquês das coisas permitem diminuir os medos.
Chegada a esta fase na maioria das situações os pais são já uma figura apenas presente, a conversa decorre no mundo da imaginação da criança que está à minha frente e tenta combinar comigo a melhor forma que tenho para lhe fazer mal ( sim, vou picá-la e vou magoá-la, mas tenho que ter o seu consentimento, sou uma estranha). Comparamos desconfortos. Costumo utilizar o teste da picada do mosquito para testar o limite da dor ( as agulhas são borboletas e ficamos na realidade dos insectos) se a picada do mosquito for normalmente motivo de dor a picada que vou dar vai doer de qualquer das formas, se não for, estamos ambos "safos .
Cada criança é um mundo e esta linha já me deu milhares de situações diferentes para lidar. Há aqueles com quem é impossível negociar, muitas vezes porque são os próprios pais que não permitem, não entendem a necessidade e acabamos por terminar em "agarramentos" e contenções excessivas que eu detesto ( gritarias, forças desmedidas, cansaço e sensação de objectivo não cumprido) e há os diferentes resultados da diplomacia. No outro dia mais uma situação caricata... " não quero, dói, tenho medo" medo de quê? " não sei" Ok, então medo porquê? " porque vou ficar com um buraco! ( risos, muitos risos, ele fica perplexo - eu aqui cheio de medo do buraco e tu ris-te?) quantas pessoas já viste sair do hospital? levam buracos? o teu irmão ficou com algum buraco quando fez análises? ( olhar perplexo novamente, mas diferente, como quem diz " mas por que é que eu não me lembrei que este medo não tem lógica nenhuma???") E então conta-me lá, dói-te quando te picam os mosquitos? não! ( olhar de incrédulo," `tas totó? desde quando é que isso dói?" ) Ok estamos safos!
Geralmente o acto da picadela em si tem que ser no meio da conversa, entre os nãos e os só mais um bocadinho...desta vez foi diferente porque por entre os é agora,não, depois, agora, não, piquei ( olhar incrédulo...é só isto???) doeu? não !!!!???? O teste do mosquito não falha!

É o medo. O medo é que nos faz não querer enfrentar certas situações. Geralmente porque sabemos que não vão ser momentos bons. Mas a vida não é só feita de momentos bons, e tal como se deve ensinar o que é felicidade, é necessário ensinar como lidar com a dor, a ansiedade e os momentos maus, que , invariavelmente vamos ter que enfrentar. A protecção é boa até determinado limite, deixa de ser quando fazemos crer aos nossos filhos, que nada de mal lhes pode acontecer porque vamos estar sempre lá para os defender. Vamos estar, queremos estar, vamos apoiá-los como podemos e como sabemos, mas uma coisa é o que temos mais certo: não vai correr sempre tudo bem, e eles também têm que aprender a lidar com isso... digo eu... até agora a taxa de sucesso destas estratégias tem sido maior do que a de insucesso. Quando deixar de funcionar, muda-se porque a experiência é mesmo isso, aprender para melhorar e se necessário: mudar...

terça-feira, 15 de julho de 2014

O melhor dia das férias

As gerações mudam, mudam as ideias de diversão e felicidade...

Sexta-feira esteve um dia fantástico de praia, tão fantástico que eu até fico sem palavras para descrever...e nem faltou a lua. Foi praia até ao por do sol e a lua nascer.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Da auto imagem e do auto controle

Dantes (penso eu) quando utilizávamos o prefixo auto, imediatamente seriamos remetidos para coisa com quatro pneus e que seria possível ser conduzida. Hoje auto significa qualquer coisa como eu. A auto imagem está no topo. Estamos focados para ela, ou para aquilo que os outros parecem ver dessa imagem ( coisas completamente diferentes) . Talvez seja a diferença entre aquilo que somos e aquilo que vemos ao espelho que nos faça ficar depressivos, desesperados. Ou talvez seja a diferença entre aquilo que somos e aquilo que pensamos que os outros querem ver de nós ( o que são coisas completamente diferentes).  
Nos últimos anos a imagem que os espelho me devolve anda a roçar a imagem de uma desconhecida... ou quase. E também fui agraciada com a doença da moda: a depressão. Entre tantas outras coisas que por aqui se passam, a gestão de tudo isto e de mais tantas outras coisas tem sido uma tarefa digna de qualquer Hércules ( digo eu! ) .
Voltando ao princípio, se a imagem que o espelho me devolve não é a imagem que quero para mim, então algo está mal e é prioritário mudar. Aqui entra em cena o auto controle.
Dizia-me um grande amigo (a quem eu agradeço milhões por me aturar o mau feitio quando entro em fase de birra) que se quero atingir um objectivo tenho que fazer sacrifícios. Sacrifícios, à primeira vista parecem mais privações... mas a maior parte das vezes são apenas um exercício de auto controle.
É necessário para tudo: se queremos fazer dieta, se queremos tornar-nos menos despesistas, se queremos atingir qualquer objectivo -  lá está o auto controle.
Chego à conclusão que, para melhorar a auto imagem, só é necessário escolher o caminho e depois executar auto controle...e deixa de ser a vida a conduzir-nos para passarmos a ser nós a conduzi-la. Sem medos, sem pressas, sem nada a não sermos nós e a imagem que queremos ver ao espelho ( sendo que imagem aqui pode ser tanto no sentido lato como no figurado) .

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dasss

... e a minha semana de férias terminou. Oficialmente ainda tenho mais uns dias, até 16, mas na prática terminaram hoje. Para não variar ( e apesar das férias) consegui não consultar bem a agenda e pensava eu que viria apenas passar a manhã na fábrica. Engano! tenho que cá estar até ao final da jornada diária. Pfff!! Não por ter que cá estar que até gosto bastante, mas porque não estava propriamente a contar com tanto! E porque não fazendo conta com tanto, esqueci-me da trazer comigo a paparoca....E faz tanta falta. Apesar de ainda continuar fixa no objectivo de perder peso, a almoço fica de facto a fazer-me mesmo falta.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

As palavras todas

Um destes dias o meu Afonso descobriu dentro da cesta branca onde carrego tudo o que quero levar para a praia um livro de um dos meus autores favoritos. Como ainda anda naquela fase de querer ler tudo o que vê, não hesitou em ler o título: " Como é linda a puta da vida" ...
Oh mãe!!?? Oh mãe!!??? Está aqui escrita uma asneira!!!??? Oh mãe!!???
E lá foi continuando pelo livro fora, a descobrir que o MEC gosta de usar todas as palavras disponíveis no dicionário : Oh mãe!!???

Interessante foi quando chegou ao local onde se lia " dá-me um beijo António" e a indignação passou a sorrisinho maroto , a algo que parecendo proibido e talvez demasiado "amimosado" também lhe parecia bem...

Há certas coisas com que se nasce. Outras que nos são impostas pelas circunstâncias. O Afonso descobriu que também se podem escrever livros de verdade com as palavras todas lá dentro, mesmo as supostamente proibidas e eu percebi que o meu bebé afinal também sabe ser um rapazinho que gosta de miminho ( bom isso, na verdade, eu já sabia... )

Relações de peso

As relações familiares são aquilo que somos, ou fazemos delas. Se tivermos tendência a complicar serão complicadas se a simplificar, serão sempre simples. É possível que saltitemos de uma forma para outra, sem nos darmos conta, ao sabor das nossas condições.
Diz a lei que sogra é para sempre. Mesmo quando os maridos passam a ex ( ou pai dos filhos, como lhe costumo chamar, já que o que foi não me interessa nada mas sim o que é e não deixará de ser : pai dos filhos que eu tenho) a sogra permanece como figura legal. Talvez por sorte ou talvez porque não podia ser tudo para esquecer, ficou-me de herança uma sogra e uma avó que faço questão de manter na minha vida. Porque foi também braço direito em momentos difíceis e porque muito do tempo que não posso passar com os meninos por questões laborais é a ela que os entrego ( os avós são uma instituição obrigatória na minha vida perante a conjuntura) .
A minha sogra fez anos: 73. Exactamente o número inverso da quantidade que eu tenho. Foi dia de festejar, de comer bolo, de esquecer a dieta por um dia, de tirar selfies... e de perceber que embora continue focada no objectivo, pelos vistos ainda me falta um longo caminho a percorrer até atingir o peso desejado. Devagar se vai longe, é um verdadeiro ditado Alentejano ...

terça-feira, 8 de julho de 2014

Hoje, como quase todos os dias fomos tentar ver o pôr do sol, mas ainda não foi desta. Tenho um verdadeiro fascínio por a hora em que a enorme bola de fogo atravessa a linha do horizonte e não consigo descrever a paz que me chega quando o consigo fazer neste ambiente que me devolve ao meu eu. Com os miúdos é sempre difícil. Porque lhes falta o fascínio que eu sinto, porque talvez ainda não se revejam nas práticas de encontrar paz interior, porque simplesmente não são capazes de estar quietos. Eu não desisto de lá conseguir chegar ainda a tempo. Com eles, mesmo que isso me custe o dobro do esforço e muitas tentativas falhadas.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Imagens

Houve um tempo em que eu não conseguia compreender os alemães que se vinham por a habitar os lugares recôndidos deste Alentejo ( profundo e menos profundo) . O meu primeiro contacto com eles foi aqui mesmo no Carvalhal, com uma vizinha que apesar de muito cordial vivia escondida para lá das sebes, num casita que toda a gente diria abandonada.
O primeiro cidadão português que conheci com esta filosofia de vida foi meu professor e foi o único que me deu uma negativa de final de período ( trabalho de mãos nunca foi a minha praia) . Ainda assim, houve sempre uma empatia muito grande com ele e foi com este professor que comecei a entender o modo de vida destes solitários naturistas. Foi também ele uma das únicas pessoas que, em pouco tempo, descobriu o sinal que me distingue ( tenho no olho um sinal como o da Maddie, mas que pouco se nota por ser de olho escuro, e que amigos de longa data tardam em conseguir identificar) e que me deu a ver uma perspectiva completamente diferente da sociedade, que fiz questão de escutar com atenção. Tenho deste homem uma imagem que irei guardar, pois que me ensinou muito mais do que o que o programa de trabalhos manuais o obrigava. O primeiro " inadaptado" do consumismo que conheci, mas vim depois a conhecer alguns mais.

Hoje entendo perfeitamente o modo de viver destes cidadãos. Podendo escolher entre o luxo e o comodismo, vivendo presos às necessidades que lhes criam, preferem a simplicidade de um lar e do contacto com a natureza.
Não sou conhecida por ser uma purista ou fiel seguidora seja de que vertente for, ou seja, militantismos, extremismos e outras ismos que tais, não são para mim. Gosto de misturar o que mais me agrada em cada uma das coisas que gosto.

Hoje vi um dos rostos que reconheço desse tempo em que não entendia. Vi-lhe as marcas do tempo. Apesar do cabelo grisalho passeava feliz na sua bicicleta. É exactamente aí que quero chegar. Saber que quando chegar o meu tempo, construi um lar, um caminho, livre das prisões do consumismo puro e em concordância com o meu coração . Só a imagem que ela me devolveu, na sua bicicleta, chegou para me encher de mim.

domingo, 6 de julho de 2014

Como não ser bom exemplo

Passo a vida a passar-lhes creme, a dizer que têm que se proteger do sol, a mandá-los vestir as t-shirts, para no final das contas, ser eu a mais mal-comportada. A verdade é que não chego às minhas próprias costas e o resultado é que tenho uns dedos brancos marcados no limite onde consigo chegar. O resto é vermelho, doi e não consente que nada lhe toque (  costumava dizer alto e bom tom que apesar de "branca mais branca não há", o sol não me chegava. Mas o sol mudou e com ele a minha tolerância) .
Nestes dias tenho aprendido/relembrado muita coisa. Relembrei de como gosto e me faz falta a vida simples de dona da minha casa ( e sim, cozinhar e brincar com os miúdos foram as minhas melhores férias da última década) e como sempre é muito verdadeira a estória do Frei Tomás - faz o que ele diz, não faças o que ele faz. ( Espero sinceramente que com o passar do Verão os dedos se misturem com o resto e fique tudo uniforme, e já agora que passe a dor)
Próximo passo: ensinar os miúdos a passar creme nas costas de uma mulher ( é capaz de lhes vir a ser útil, no futuro, este ensinamento...)

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Do bom e do menos bom

Hoje o jantar foi à luz das velas. Que romântico dirão vocês, que prático direi eu, já que os mosquitos não são por aí grandes amigos do fumo e do queimar do incenso ( sim também houve incenso).
Por esta altura, enquanto escrevo, os miúdos tratam da saúde aos mais audazes que entram dentro de casa e lhes perturbam a serenidade. Por mim, já me habituei. Há 30 anos ou mais que para aqui venho e não me lembro nunca de um Verão sem mosquitos. Vai ser difícil habitua-los a sermos só os 3. Vai ser difícil explicar-lhes que todas as coisas boas têm também um lado difícil. O chá pós-prandial bebi-o sozinha. Mas não desisto de querer que aprendam a gostar de tudo isto, que apesar dos bichos parasitas, é o melhor que a vida tem...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

E quem é que quer uma ameixa????

Das muitas coisas com que sonho agora é com a altura em que poderei fazer de novo as minhas próprias receitas. Para isso, vagueio por locais como este . Hoje perdi-me um pouco por aqui   e fiquei a lembrar-me duma altura em que subia à arvore para as apanhar e comer de uma assentada só. Nessa altura as ameixas ainda eram pequenas, moles, suculentas, e desfaziam-se na boca em doce, num não querer parar mais de as comer. A arvore era enxertada e havia delas vermelhas e amarelas ao "gosto da freguesa". Nessa altura não pensava em calorias, nem em dietas, nem sequer em como eram saudáveis aquelas pequenas frutas. Hoje em dia para comer ameixas como deve ser  já  é preciso muito mais atenção.  A maior parte das que se vendem por aí são duras, amargas e grandes demais para o meu gosto, mas um verdadeiro encanto para os olhos. Até a ameixa , simples, pequena e portuguesa, sofreu os achaques da globalização e vende-se verde e dura à espera de amadurecer. Alguém me ensinou um dia que fruta boa era aquela que não se comprava com os olhos, é por isso que gosto de lhe mexer ( sim, sou das que gosta de "apalpar" a fruta antes de a por no cesto !!!) e se tiver a pontos de se esborrachar quando lhe toco, então sim, tenho a certeza que era mesmo esta a ameixa que eu queria: simples e gulosa ameixa portuguesa ( e já agora - descobri hoje - com tão pouca caloria...) . Até nisso o Verão é imbatível: na fruta sumarenta e deliciosa, que torna muito mais fácil qualquer dieta.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Planear as férias

Comecei a receber, a conselho da Ritinha, à alguns meses a newsletter da Mum`s the boss ( achou que era a minha cara e acertou, gosto muito dos conselhos que leio ali) .
Este post fez -me lembrar os tempos em que eles eram mais pequenos e que cada vez que saía de casa levava atrás uma quantidade imensurável de coisas. 

Sempre detestei que me faltasse alguma coisa quando precisava dela e acho que é desses tempos que trago a mania de andar com a mala do sport billy às costas. Carrego sempre pesos excessivos, para garantir que, nas longas horas que estou fora de casa, nunca me falte nada.

Se é certo que naquela altura nunca havia grande ajuda a carregar o material necessário, também é certo que hoje já não necessito nem de metade das coisas e os miudos já vão ajudando e carregando aquilo de que acham que vão necessitar. 

É da brincadeira que sinto mais falta, que nunca me achei demasiado complicada nesta coisa de seguir o planeamento - dá para se fazer faz-se, não dá paciência, embora também saiba que isso transmite uma certa insegurança aos miúdos ( mas vamos mesmo fazer, mãe?) - não que já não goste de brincar com eles, mas a vontade de saltar e correr para a água e depois vir e encrocar-me de areia, já não é propriamente a mesma. E depois há o futebol: esta é uma brincadeira que eles adoram  (não fossem os genes também pesar alguma coisa) e da qual eles sabem que me recuso a participar. Andar aos pontapés com uma bola não está nas minhas definições de diversão, embora não me recuse a ver um bom jogo. 

Brincar com eles vai ser um aspecto a melhorar este Verão. Os jogos fazem parte da nossa rotina: o uno, jogos de tabuleiro; mas talvez ande a utilizar demasiado do meu tempo a alinhar os chackras em vez de o aproveitar na brincadeira, momentos para viver e recordar... e praia e piscina e muita água para ajudar, que dessa brincadeira só o frio me faz fartar. A ver vamos, como correm as férias.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Pouco mais que isto

Ao fazer a leitura diária de hoje, deparei-me com isto. Ora aí está um assunto sobre o qual vale a pena reflectir. Sou orgulhosamente mãe, como se sabe, mas é um facto que concordo totalmente com o que se escreve naquele post. Teoricamente concordo. O pior é, de facto, o mais difícil. Isto é: sim, não nos podemos anular enquanto pessoas, nem enquanto mulheres ou homens ou pais ou "whatever" mas o que é facto é que as crianças necessitam de mimo, de atenção, de uma parafernália de coisas como alimentação, saúde e educação e para isso é necessário ( imaginem...) dinheiro! e para ganhar dinheiro é necessário ( o que será, o que será?) trabalhar e para trabalhar é necessário ( hummm...) cada vez mais tempo...e o que sobra pouco basta para matar saudades e educar e transmitir valores e ideias e dar bases para a vida futura. O que sobra depois de tudo isto? Uma vida que gira, inevitavelmente, em redor dos filhos que escolhemos ter, por opção de vida. Não me choca quem toma a opção de não ter filhos. Choca-me muito mais quem os tem e depois se desresponsabiliza do seu futuro.
É certo que transmitir aos filhos a importância da mãe como ser individual e com identidade própria deve ser muito importante, mas garanto-vos que é muito difícil quando à nossa volta rodam uma série de super-heróis que ainda acham que a obrigação da mãe é anular-se em prol dos filhos. Nesta fase da vida e da conjuntura ( adoro esta palavra para descrever isto que nos está a acontecer, de sermos praticamente explorados para conseguirmos pagar os erros que muitas das vezes nem nossos são) é-me impossível gerir a vida sozinha e recorro a quem sempre me abriu a porta: os avós. Um avô babado, que já foi um pai babado e que agora, protege os meninos de tudo e mais alguma coisa, esquecendo-se que, se não aprenderem a cair, não aprendem a levantar-se. Os avós são as figuras mais importantes para que saibamos respeitar a sabedoria da idade, mas o papel das mulheres no mundo mudou e com ele a necessidade de espaço e de tempo para encontrarmos de novo o nosso lugar. Voltar para a casa dos pais foi um duro golpe na liberdade e independência mas sobretudo foi o golpe de misericórdia na mulher, que passou a ser exclusivamente mãe e profissional. Posto isto, é natural que sejam eles e os feitos deles os que mais me orgulham. É que pouco tempo há para muito mais que isso...

E se alguém de repente te oferecer flores? bom, primeiro vou ter que perceber muito bem o que é que eu ainda consigo fazer com isso...