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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Procuras




Procurei-te como se tentasse salvar a minha própria vida. Em todos os recantos de uma casa cheia de coisas que , afinal, não me servem de nada. Coisas, que ocupavam o espaço onde era suposto haver gente. Não estava ninguém. Não está ninguém. Fecho a porta no trinco ( não que tenha medo que me roubem alguma das coisas-não me servem para nada, nem para encher) . Olho para trás e a porta, estranhamente, parece-me completamente desconhecida. Afinal, não é aqui o meu lugar. O carro está quente, cheira a eu. Ouço ao longe ecos de sorrisos, mas não vem ninguém a descer a rua. Suponho que serão os truques da minha memória, a tentar encher um espaço com que pensei identificar-me. Ligo a ignição e o escuro ilumina-se com as inúmeras luzinhas que me informam que posso seguir, ou não, porque a maior parte das vezes são apenas luzinhas e não me dão nenhuma informação porque não lhes quero dar atenção. Sigo. Aqui serei feliz! e vem -me à ideia uma daquelas frases que nos tentam vender algo, que não nos fará diferença nenhuma não ter. Passo no lugar onde costumas estar, mas a cadeira, rente à estrada, está vazia. Tiveste sorte, hoje. Mesmo que te saia do corpo, te fira a estrutura com a qual terás que continuar, ao menos, o bolso estará cheio. Chego. E de lá até aqui foram apenas distâncias, percorridas num silêncio que se pode preencher de tudo menos do tempo que se levou a percorre-las. Penso em ti. Se calhar já te abandonaram, no mesmo lugar, na mesma estrada, e a única diferença entre nós duas é que tu só terás a mais o teu bolso cheio de alguma coisa que irás distribuir, para depois procurares por mais. Não te invejo a sorte, ou a escolha. Saio sem bater a porta ( estou farta de turbulências, barulhos e agressividades). A porta, apesar de não a ver há tanto tempo, está exactamente como me lembro dela. A chave ainda abre a fechadura. Entro, acendo a luz. O pó povoou o espaço que era o meu. Vai dar trabalho limpar tudo o que deixei que se acumulasse aqui. Não te devia ter abandonado - e as palavras saem-me do pensamento, mas consigo ouvi-las - não volto a sair deste espaço onde me sinto completa, mesmo que esteja vazio, ou que esteja sozinha. Aqui nunca deixarei de ser eu.


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