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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Ensaios de cegueira

De entre os muitos livros que escrevi por aí, há sempre os que nos tocam mais do que outros. Todos os que se vestem de mistério e fantasia são os que me dão mais prazer a escrever e me devolvem maior satisfação.

O meu diário de voo foi o último dos que agora pretendo compilar (em breve estarão disponíveis) ...

E então voamos? voamos pois!




" Bato à porta, levemente.
A cegueira é um estado de espírito em que, muitas vezes, nos recusamos a olhar para nós próprios. Tento ver para além da matéria, que me é dada a conhecer sensorialmente, e vejo apenas a minha própria venda. A bola, dum cristal puro, que representa a mais interna e valiosa de todas as minhas riquezas, transmite-me a luxuria que eu quero apagar para sempre da memória.
Bato à porta com mais força.
A cegueira mantém-se, transformando agora aquilo que vejo, naquilo que quero ver.
A porta torna-se no alvo a abater, ao murro e ao pontapé. Pretendo que sucumba para não ter que lidar com a incapacidade de simplesmente bater e ter que aceitar que as portas só abrem, se houver uma chave certa.
Não ter que aceitar a própria luxuria, que existe em todos os seres, que existe em mim. Dispo-me com a venda, para não me ver. Vivo e sinto tudo, cega de mim, para não aceitar as próprias limitações. E o corpo pede a alma que lhe faz parte e a alma descaracteriza-se sem o corpo que a a transporta.
A bola deixa de prever, um futuro.
A porta mantém-se fechada, e eu, desesperada, grito para que me ouçam, para que ouçam, o corpo que se separou da alma, a alma que deixa de fazer sentido perante a porta fechada.
Imagino, e a imaginação alimenta-me a sede e a fome de um corpo.
Cai a venda. Procuro-me. Encontro-me?
Bato à porta, levemente... "

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