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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Planos

Diz a tradição que por esta altura devem fazer-se as resoluções de ano novo.Este ano, não tenho resoluções, para não cair no dejá vu de não cumprir quase nenhuma. Tenho Planos! Vou "apegar" os sonhos aos planos para que haja a força e resiliência necessárias para continuar. Augura-se um ano difícil,  mas, não terão sido difíceis os anos que temos passado ultimamente? A esperança é o combustível da vida e , por enquanto, ainda não tem nenhum imposto que lhe acrescente o custo, sendo que não custa nada esperar: esperar um ano novo com alegria, sonhos, planos e vontade de os realizar; esperar que o novo ano nos traga novas experiências que nos influenciem positivamente e nos abram novos caminhos onde possamos ir mais longe; esperar que no fim do próximo ano nos sintamos ainda com muita vontade de ir mais além. E esperando que a tarde e a noite sejam calmas, aqui onde a dor vem fazer o seu ninho, espero também que o ano novo vos traga  a saúde e a paz que é essencial à vida... Até para o ano!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A queda

Embelezar o que nos vai por dentro e trazê-lo cá para fora para que se transforme em música que ajude outros a dançar, nem sempre é fácil ( descomplicar o que nos é dificil aceitar, nunca será fácil!). Pensando assim sorria. Batia de frente com as pedras do caminho, provocando mazelas, que não se vendo, era fácil fingir que não existiam. Um dia, pensando ter apenas mais uma pedra no caminho, não viu o buraco. A queda foi vertiginosa. Não via nada, apenas o som do eco da sua própria voz misturado com a sensação de falta de chão enquanto algumas superficies duras lhe feriam o corpo na descida.  Estranhamente o chão que lhe aparou a queda não era duro. Pelo contrário, pelo toque podia distinguir a maciez , talvez fosse areia (?) não! seria algodão (?) Talvez a queda não fosse a descer mas a subir e estivesse nas nuvens... não via nada, confiava apenas nos sentidos e na imaginação, mas a sensação era prazeirosa. Ao longe, o som da música parecia dizer-lhe para onde seguir. Esqueceu-se do que havia antes da queda. Esqueceu-se de tudo. A vida passou a ser apenas a busca pela luz que lhe permitisse perceber onde se encontrava. Talvez, aqui, também o porquê fosse importante, mas para quê um porquê se já ali estava ? No momento em que a música parou, deixou de ter ponto de referência...sentou-se. O chão continuou macio, fofo, acolhedor, mas até isso pareceu esquecer-se, deixou de fazer sentido. Chamaram ao buraco a grande depressão. Eram contas que não lhe passavam pela cabeça, a descontar naquele chão que parecia não querer deixar que se afundasse mais. Mas a luz não vinha... Um dia, decidiu não esperar mais. Levantou-se e reunindo as poucas forças que ainda pareciam restar, pôs os pés ao caminho. Acordou com os primeiros raios de sol da manhã a entrarem pelas frinchas da janela e sentiu saudades! Estava cansada... a sensação macia que que lhe recordava o seu chão chegou-se ao seu corpo. Não estava sozinha, nunca esteve. Há tanta coisa que os olhos não conseguem ver...mas descomplicar o que nos é dificil aceitar, nem sempre é fácil!

sábado, 28 de dezembro de 2013

Palavras

Palavras. Qualquer uma, muitas, nenhuma até, se isso chegar para descrever o que é. Mas é o silêncio que eu ouço. O coração pula, pára e arranca querendo sincopar em desuníssono. ( posso dizer uma asneira?) irra que me dói o silêncio, mas pesam-me ainda mais as palavras que não dizem nada do que espero ouvir.

Entro, por um corredor onde parece que me chamam a cada leito, como se um caudal de água poluída corresse continuamente. Em desespero, ausento-me do que é, para vender a esperança do que poderá vir a ser, e olhando para o futuro, levo pela mão enxurradas de desconhecidos que me abrem os braços tendo-me como porto de abrigo... ( vá lá deixa-me dizer uma asneira, uma só...) irra que já não aguento mais... e o coração continua a sincopar em desuníssono! O Outono, tomou de novo o lugar da Primavera. Depois da partida, a chegada. Este lugar é-me desconhecido e não conheço ninguém, nem te distingo dos demais ( é agora! se não páras para pensar digo uma asneira alto e bom som)...


Já disse!

Nada mudou. O caudal de água continua a correr, lavando a dor e a mágoa de quem se estende no seu leito. As palavras não mudaram o sentido dos ponteiros do relógio. O choro das crianças e dos adultos não afugenta o medo da escuridão. Não descrevo melhor o que não sei dizer o que é.  As turbulências dos azares da vida rebolam-me no pensamento ( e as asneiras não ajudaram nada, viste? ) ...mesmo assim cá estamos, de costas voltadas, como os marretas a assistir a uma comédia de bonecos, soprando para o ar escárnios, pedindo que se transformem em palavras de amor que nos juntem num novo abraço ( sabes? já tenho visto melhores coisas escritas por e para mim...mas ultimamente parece que se esgotaram as palavras de amor, com os lamentos) . Adormeço-me num leito igual a tantos outros. Até as palavras me doem agora...os gestos de quem dá sem pedir em troca esgotaram-se no tempo, ainda antes de vir a crise. O corredor de gente que parece não querer parar de chegar, um eu que parece não querer parar de ir, os dias a esgotarem o calendário de mais um ano,



e as palavras, essas que todas juntas, tantas vezes, fazem tantos estragos...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

...agora, o Natal já não é na "sala grande", as avós já cá não estão...a família cresceu, multiplicou-se, distribuiu-se por outras casas, dividiu-se , voltou às origens, e agregou novas famílias. O Natal é bem diferente, mas nem por isso pior. Hoje somos muitos, de famílias diferentes, mas já fazemos tradição e até o Brasil se junta a esta enorme festa que une famílias fazendo uma família alargada e maravilhada por se voltar a juntar de novo!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Memórias da Avó

A verdade é que muito raramente passa um dia em que não me lembro dela!mas agora é Natal... Às vezes pergunto-me de onde me vem este gosto pelo natal , mas desconfio que a ambiguidade que me caracteriza foi ela que ma passou. Porque nem sempre aquilo que se mostra é aquilo que se transporta em actos para os que mais amamos.
Recordo a apanha do musgo como o inicio das festividades: íamos até à serra e retirávamos por entre as rochas os bocadinhos que nos pareciam mais vistosos para compor o chão do presépio. O pai ( ou alguém) fazia o pinheiro entrar em casa e começava o jogo de embelezamento que invariavelmente acabava na brilhante conclusão: o ano passado ficou melhor! Era esta a época do ano em que a "grande sala das coisas brilhantes" era mais utilizada. A árvore com as luzes, a lareira sempre acesa e os milhentos berloques que enfeitavam as estantes enchiam-me os olhos naquela explosão de coisas bonitas a que raramente conseguia aceder de perto nas outras épocas do ano.  A decoração era feita ao som do Roberto Carlos, do Júlio Iglésias e do frei Hermano, que cantavam à desgarrada, alinhados à vez no prato do gira -discos e em disputa com a campainha da porta ou o agudo e elevado som do telefone preto, sediado á entrada da casa ( esta casa parece a casa do primeiro-ministro, o telefone não pára!)

Ela detestava o Natal! Fazia questão de "emburrar" na manhã de 24 para só sorrir na altura da troca de mimos com o Adriano. Ele oferecia-lhe uma caixa de bonbons enorme que ela escondia durante o ano ( e que comia sabe Deus quando, porque de todas as vezes lembro-me de só ter direito a um ou dois e depois a caixa aparecia vazia lá para Junho, na altura da mudança para a praia) e ela oferecia-lhe uma lata de laca enorme, com que ele penteava a franja de que tinha tanto orgulho (  mesmo quando iamos passear para o pinhal, em cima da carrinha de caixa aberta, quando o sr Adriano punha a cabeça de fora, para saber se estavamos bem, o cabelo não mexia nem um centimetro!). O "emburricamento" só passava a 26. Nunca percebi porquê! Não gostava, porque não gostava! Mas todos os anos havia botinhas novas para aquecer os pés e lembro-me da satisfação quando o João, acabado de entrar na universidade em Bragança, recebeu para além das botas de lã para dormir uma enorme manta para se aquecer - todos nós ainda guardamos mantas dessas, às cores - depois deles partirem, não houve mais mantas de lã, nem bonbons, nem latas de laca. Mas ela teimou em emburricar até ao seu último natal, do qual já não teve memória.

Apesar disto, cirandava por entre a nossa alegria, fazendo torradas na lareira e café com leite para adoçar as férias. Por estas alturas  tinhamos permissão para brincar na sala grande. Montava legos, vestia e despia bonecas barbie e até para essas ela teve paciência de criar uns "modelitos". O candeeiro de cristal brilhava e eu, deitada no sofá, de barriga para cima, ficava a imaginar que o tecto era um enorme salão de baile e o candeeiro, com a luz a trespassa-lo e a transforma-la em pequenos raios de muitas cores, enchia-me a imaginação de muitos, muitos sonhos.

A missa era uma missão minha, porque gostava! Cantava ao menino Jesus e sempre me senti aquecida entre aquelas paredes enquanto o padre Guerreiro cá esteve. Outro, a quem os actos nem sempre abonavam em favor da alma que o habitava! Guardo com saudades os sermões e a capacidade de perdão, depois das palavras más, que ele me ensinou. Ela não era de missas, cá em casa não eramos de missas, recebi este "dom" da minha tia, mas todos se orgulhavam do meu gosto por estar presente.

Foi com ela que aprendi que, muitas vezes, o que nos vai por dentro não é aquilo que mostramos. As nossas zangas com o mundo podem fazer-nos parecer azedas, mas por dentro, um coração mole será para sempre um coração mole, que se derrete com uma simples gargalhada. Ensinou-me sobretudo que não basta olhar para as coisas é preciso ver e perceber o que é que está , realmente, a fazer falta a quem nos está por perto!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Procuras




Procurei-te como se tentasse salvar a minha própria vida. Em todos os recantos de uma casa cheia de coisas que , afinal, não me servem de nada. Coisas, que ocupavam o espaço onde era suposto haver gente. Não estava ninguém. Não está ninguém. Fecho a porta no trinco ( não que tenha medo que me roubem alguma das coisas-não me servem para nada, nem para encher) . Olho para trás e a porta, estranhamente, parece-me completamente desconhecida. Afinal, não é aqui o meu lugar. O carro está quente, cheira a eu. Ouço ao longe ecos de sorrisos, mas não vem ninguém a descer a rua. Suponho que serão os truques da minha memória, a tentar encher um espaço com que pensei identificar-me. Ligo a ignição e o escuro ilumina-se com as inúmeras luzinhas que me informam que posso seguir, ou não, porque a maior parte das vezes são apenas luzinhas e não me dão nenhuma informação porque não lhes quero dar atenção. Sigo. Aqui serei feliz! e vem -me à ideia uma daquelas frases que nos tentam vender algo, que não nos fará diferença nenhuma não ter. Passo no lugar onde costumas estar, mas a cadeira, rente à estrada, está vazia. Tiveste sorte, hoje. Mesmo que te saia do corpo, te fira a estrutura com a qual terás que continuar, ao menos, o bolso estará cheio. Chego. E de lá até aqui foram apenas distâncias, percorridas num silêncio que se pode preencher de tudo menos do tempo que se levou a percorre-las. Penso em ti. Se calhar já te abandonaram, no mesmo lugar, na mesma estrada, e a única diferença entre nós duas é que tu só terás a mais o teu bolso cheio de alguma coisa que irás distribuir, para depois procurares por mais. Não te invejo a sorte, ou a escolha. Saio sem bater a porta ( estou farta de turbulências, barulhos e agressividades). A porta, apesar de não a ver há tanto tempo, está exactamente como me lembro dela. A chave ainda abre a fechadura. Entro, acendo a luz. O pó povoou o espaço que era o meu. Vai dar trabalho limpar tudo o que deixei que se acumulasse aqui. Não te devia ter abandonado - e as palavras saem-me do pensamento, mas consigo ouvi-las - não volto a sair deste espaço onde me sinto completa, mesmo que esteja vazio, ou que esteja sozinha. Aqui nunca deixarei de ser eu.


sábado, 14 de dezembro de 2013

Mergulho



...Engraçado. Tinha a certeza que quando aqui chegasse iria ter uma sensação completamente diferente. Espreito outra vez. Na vertical a altura perde o sentido. É distância apenas. Distância entre o sitio onde estou ( os meus dedos agarram a ponta da prancha como se se quisessem colar à plataforma rígida) e aquele que supostamente será o objectivo. Lá em baixo a distância parecia menor, agora que aqui estou, está longe o que pretendo alcançar. Não é medo! não. É a resistência à mudança, de certeza! A resistência entre abandonar a certeza de uma base sólida pelo mergulho na distância desconhecida e na incerteza da queda. Levanto os dedos, sem olhar em frente, fixo-os como se fossem a minha ultima ligação à segurança. Atiro-me. Sinto a deslocação do ar na minha face, o leve e rápido soprar nos meus ouvidos. Tempo para um último pensamento...já está, já saltei, consegui.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Ruídos




Subiam a rua demoradamente, lado a lado, em silêncio. A mão dada bastava-lhes assim como a paisagem de fim de tarde de outono que pintava as árvores em cor de fogo a extinguir-se com a passagem do tempo. O ruído veio do fundo primeiro como um leve grito agudo depois a distinguirem-se os tons metálicos dos travões na mistura da borracha em sofrimento ao arranhar o alcatrão. Foi tudo num segundo, ou talvez menos, ou pelo menos assim lhe parecera.
 Aqueles apitos repetitivos cansam-na: tortura,  como o peso daquela imobilidade aparentemente constante. Há vários dias que tentava falar. Sempre que o fazia eram apenas os ecos dos apitos e um estranho perder da memória, o que conseguia.

Ensaios de cegueira

De entre os muitos livros que escrevi por aí, há sempre os que nos tocam mais do que outros. Todos os que se vestem de mistério e fantasia são os que me dão mais prazer a escrever e me devolvem maior satisfação.

O meu diário de voo foi o último dos que agora pretendo compilar (em breve estarão disponíveis) ...

E então voamos? voamos pois!




" Bato à porta, levemente.
A cegueira é um estado de espírito em que, muitas vezes, nos recusamos a olhar para nós próprios. Tento ver para além da matéria, que me é dada a conhecer sensorialmente, e vejo apenas a minha própria venda. A bola, dum cristal puro, que representa a mais interna e valiosa de todas as minhas riquezas, transmite-me a luxuria que eu quero apagar para sempre da memória.
Bato à porta com mais força.
A cegueira mantém-se, transformando agora aquilo que vejo, naquilo que quero ver.
A porta torna-se no alvo a abater, ao murro e ao pontapé. Pretendo que sucumba para não ter que lidar com a incapacidade de simplesmente bater e ter que aceitar que as portas só abrem, se houver uma chave certa.
Não ter que aceitar a própria luxuria, que existe em todos os seres, que existe em mim. Dispo-me com a venda, para não me ver. Vivo e sinto tudo, cega de mim, para não aceitar as próprias limitações. E o corpo pede a alma que lhe faz parte e a alma descaracteriza-se sem o corpo que a a transporta.
A bola deixa de prever, um futuro.
A porta mantém-se fechada, e eu, desesperada, grito para que me ouçam, para que ouçam, o corpo que se separou da alma, a alma que deixa de fazer sentido perante a porta fechada.
Imagino, e a imaginação alimenta-me a sede e a fome de um corpo.
Cai a venda. Procuro-me. Encontro-me?
Bato à porta, levemente... "